Saramago criou um mundo ficcional e ao mesmo tempo um sistema de pensamento que busca uma universalidade, o seu modo único de pensar as coisas humanas, as vicissitudes de um tempo histórico onde se revelam as marcas do tempo vivido e a longa história das grandezas e vícios humanos.

Os atores interpretam passagens, entre a vida dos textos e a experiência do autor, contemplando ideias universais, que às vezes se exprimem de modo categórico. Saramago escreveu e recriou, enquanto analista da vida e da ligação que mantinha com as suas raízes familiares e culturais.

​

Os atores apresentam-se como mensageiros pouco ou nada convencionais, pouco ou nada submersos nos efeitos do real. José Saramago entregava a tarefa da interpretação à liberdade dos leitores, insuflava os textos de uma sintaxe poderosa e de uma gramática às vezes delirante. A pontuação é uma espécie de marcador da respiração, signo da liberdade do leitor e do correr das coisas nos modos da escrita. Ao longo da performance, os actores criam espaços de interpretação, desafiando os leitores a viver a diversidade dos sentidos e a assumir a sua própria revelação naquilo que é distinto e singular.